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Ciência e tecnologia no Brasil continuam fora da agenda

Passado
O Fórum do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) reuniu nesta semana especialistas de todo o país para discutir ações para conscientizar a sociedade e os tomadores de decisão sobre a importância do financiamento das atividades de ciência, tecnologia e inovação.
José Goldemberg, presidente da FAPESP, destacou três razões pelas quais a ciência e a tecnologia são importantes para países emergentes, como o Brasil. A primeira delas é que mesmo para importação de tecnologias é preciso ter pessoas com capacitação para escolher a melhor opção que será adotada pelo país. "O setor privado faz isso o tempo todo e os governos também precisam disso [de pessoas capacitadas" para fazer suas escolhas", afirmou.
A segunda razão é que países em desenvolvimento têm algumas características próprias que permitem implementar tecnologias que efetivamente não foram exploradas adequadamente pelos países centrais, como foi o caso do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), iniciado em 1975 no Brasil. "Os Estados Unidos iniciaram seu programa para produção de biocombustível nos anos 2000 com características não tão boas quanto as do Proálcool", comparou.
Já a terceira razão pela qual ciência e tecnologia são importantes para o Brasil, de acordo com ele, é que há pessoas talentosas em todo os lugares do mundo e que avanços nessas áreas ocorrem também em países que não são centrais.
Produtividade
Mas, por enquanto, isso parece soar melhor no campo das teorias do que na prática. Na avaliação do presidente da Finep, Marcos Cintra Cavalcanti, ainda não há uma clara percepção no Brasil da importância da C, T&I para o desenvolvimento econômico e social do país.
"Qualquer país que paralisa seus investimentos em ciência e tecnologia dificilmente irá conseguir recuperar seu espaço perdido nessas áreas, porque o mundo está avançando. Se perdermos a visão da fronteira tecnológica mundial estaremos fadados a ser meras colônias do ponto de vista científico e tecnológico e caudatários no processo de desenvolvimento econômico", disse ele.
De acordo com dados apresentados no evento, o Brasil tem aumentado seu hiato tecnológico em relação ao restante do mundo. A produtividade do país no período de 1990 a 2014, por exemplo, cresceu apenas 4%. "É absolutamente impossível conseguir atingir uma trajetória sustentável de crescimento sem que a produtividade do país cresça. Não é possível gerar bons empregos e bons salários com baixa produtividade", afirmou Eduardo Moacry Krieger.
Segundo ele, o fator determinante para o crescimento da produtividade é a inovação tecnológica, que demanda um forte investimento não só nessa área, como também em ciência e tecnologia: "A produtividade é um fator decisivo tanto para os países desenvolvidos como para os em desenvolvimento. E sem um forte investimento em ciência, tecnologia e inovação, a produtividade do Brasil não vai crescer".
Desindustrialização
O esforço nacional em pesquisa e desenvolvimento (P&D) ainda é baixo em comparação com outros países, situação que foi agravada pela recente crise econômica do país.
Segundo estimativas apresentadas por Krieger, os dispêndios públicos e privados em P&D no Brasil caíram nos últimos três anos e voltaram ao patamar de 1% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB): "Já havíamos chegado a 1,2% do PIB e há 15 anos os dispêndios eram de 1,1%. Agora regrediu, enquanto vários outros países têm avançado e definido metas mais ambiciosas para aumentar seus gastos em P&D".
Um dos fatores que explicam essa retração, de acordo com Carlos Américo Pacheco, foi a forte queda da participação da indústria no PIB brasileira - que representa a principal fonte de dispêndio em P&D no país -, o que contribuiu para jogar para baixo os indicadores privados.
Postado por David Araripe

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