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O gênio de Burle Marx, em três plantas surpreendentes do Aterro do Flamengo

Ninguém questiona que, nesses dias pré-Olimpíada, a maré de violência no Rio de Janeiro está bravíssima – como mostra a reportagem de capa de VEJA atualmente nas bancas. Mas, em uma viagem bate-e-volta a trabalho à cidade, na semana passada, mais uma vez morri de inveja de um patrimônio carioca que nenhum outro lugar no Brasil ou no mundo tem: a riqueza paisagística do Aterro do Flamengo continua lá, resistindo ao tempo ruim, para deleite dos amantes de plantas que fazem o trajeto do Santos Dumont à Zona Sul.
O trabalho de Burle Marx é de gênio, sem um pingo de exagero, tanto na distribuição espacial das árvores e palmeiras, que vão se sucedendo diante dos olhos como num harmonioso balé botânico, quanto na ideia visionária de apresentar ali um painel da flora tropical brasileira e internacional, naquilo que ela tem de mais espetacular e incomum.
Como seria vão, enfim, tentar resumir num mero post as qualidades do Aterro do Flamengo, falo aqui sobre três de suas maiores estrelas – o objetivo é estimular você, caríssimo leitor, a ir atrás e, se tiver essa preciosa chance, plantar alguma delas no seu jardim, casa de campo ou naquela praça simpática mas caidinha pela qual você passa de carro todo dia.
Eis o trio de ases de ouro de que Burle Marx se valeu no Aterro:
1) ABRICÓ-DE-MACACO ou MACACARECUIA (Couroupita guianensis)

Típica de terrenos alagados da Amazônia brasileira, esta árvore chama atenção em qualquer lugar por sua beleza bizarra. As flores, em tons avermelhados, emergem diretamente de toda extensão de seu tronco. Em seguida, os frutos em forma de grandes bolas cobrem a planta de alto a baixo por vários meses. Vale a dica de Burle Marx: quando plantada em conjuntos, na posição de abre-alas do jardim, a macacarecuia produz um efeito notável. Único porém: ela até tolera terrenos férteis sem tanta água – mas não gosta de solos pobres e secos demais.
2) PALMEIRA TALIPOT (Corypha umbraculifera)

Esta palmeira nativa do sul da Ásia, em países como Mianmar, Índia e Cambodja, é um verdadeiro monumento botânico. Ela atinge até 25 metros de altura, mas produz folhas gigantescas desde a forma juvenil e acaule. A Talipot é célebre não só por seu porte, mas pelo espetáculo que proporciona no final de sua vida. Sua inflorescência, a maior dentre todas as espécies vegetais, é produzida uma única vez, quando a planta tem por volta de 70 anos de idade – espetáculo que tem sido visto no Aterro do Flamengo com frequência nos últimos anos. Depois disso, a planta produz milhares de sementes e morre. Seu único porém é evidente: a Talipot deve ser plantada apenas em espaços muito amplos – nem tente cultivá-la num jardim de inverno intimista.
3) ACÁCIA SEYAL ou ESPONJINHA AMARELA (Vachellia seyal)

Garimpada pelo paisagista na flora da África, a arvoreta tortuosa de até 3,5 metros de altura produz flores amarelas na forma de vistosos pompons. Mas o que faz dela uma opção excepcional para o paisagismo é o tronco de uma cor de cobre profunda, metálica e reluzente. Únicos poréns: a acácia seyal não deve ficar em áreas de grande circulação, por ser bastante espinhenta – e é preciso comprá-la em algum dos poucos lugares no país que produzem mudas capazes de soltar seus ramos acobreados desde jovens (mudas feitas por semente, por exemplo, podem levar muito tempo para exibir toda a beleza).
Postado por David Araripe

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