Cadeia Vitoria-Trindade utilizada como modelo para explicar a origem da vida marinha ao redor de ilhas isoladas
Exatamente 50 anos após a publicação da Teoria de Biogeografia de Ilhas, modelo amplamente utilizado para compreender a distribuição e a riqueza de espécies terrestres em ilhas, pesquisadores lançam uma nova teoria que explica a origem e evolução da vida marinha nesse ambiente. O estudo foi publicado hoje no renomado jornal Nature e corresponde a um dos capítulos da tese de doutorado de Hudson Pinheiro, realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do programa Ciência sem Fronteiras.
O artigo é assinado, ainda, por Giacomo Bernardi, da Universidade da Califórnia Santa Cruz, onde Hudson cursou o doutorado; do bolsista de Produtividade em Pesquisa 2 do CNPq, Jean-Christophe Joyeuxe e dos pesquisadores Thiony Simon e João Luiz Gasparini, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Raphael Macieira, da Universidade de Vila Velha, além de Claudia Rocha e Luiz Alves da Rocha, da Academia de Ciências da Califórnia.
Para compreender como as espécies se originam nas ilhas, os pesquisadores da UFES primeiro desvendaram a biodiversidade dos ambientes recifais dos montes submarinos e ilhas da Cadeia Vitória-Trindade, localizados na costa capixaba. Esses montes são extremamente isolados e profundos. Assim, a equipe precisou capacitar-se com técnicas avançadas de mergulho e utilizar equipamentos específicos para explorar áreas até 85 metros de profundidade e a 900 km de distância da costa brasileira.
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Região costeira da Ilha da Trindade, onde são encontrados a maioria das espécies endêmicas da Cadeia Vitória-Trindade. Foto de João Luiz Gasparini |
"Descobrimos que a maior parte das espécies endêmicas são pequenas, possuem capacidade de migração muito limitadas, e se originaram recentemente. Um número pequeno de espécies terrestres chega nas ilhas, onde acabam diversificando-se para ocupar todos os ambientes disponíveis. No ecossistema marinho, todos ambientes são ocupados por espécies com boa capacidade de se dispersar, e a origem de novas espécies só ocorre quando os peixes com menor capacidade de dispersão chegam nas ilhas", relata Hudson Pinheiro, atualmente pesquisador associado da Academia de Ciências da Califórnia e da Associação Ambiental Voz da Natureza.
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Arquipélago de Martin Vaz, as ilhas brasileiras mais distantes da costa e um dos locais estudados na pesquisa. Foto de João Luiz Gasparini |
"Estudar a biodiversidade dos montes submarinos da Cadeia Vitória-Trindade era um sonho antigo dos pesquisadores", comenta o pesquisador João Luiz Gasparini. Há mais de 20 anos estudando a biodiversidade marinha de Trindade e da costa do Brasil, o pesquisador sugere que as espécies com baixa capacidade de dispersão só puderam chegar na ilha durante as Eras Glaciais, períodos que o que nível do mar era mais baixo que o atual (até 120 metros), e que os atuais montes submarinos eram ilhas. "A última Era do Gelo terminou cerca de 10.000 anos atrás, e isso explica a origem recente dos peixes de Trindade, que só conseguiram chegar lá utilizando os montes quando estes eram ilhas com ambientes rasos", completa Hudson.
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Ambiente submarino do monte Vitória, um dos locais estudados pelo time de cientistas brasileiros que desenvolveu a nova teoria de biogeografia marinha. Foto de Hudson T. Pinheiro |
Cientistas, ambientalistas e pescadores, assim, estão trabalhando em conjunto para mostrar ao governo a importância cultural, econômica e cientifica da região. "Esperamos que a Cadeia Vitória-Trindade possa ser utilizada como fonte de recursos naturais e de desenvolvimento cientifico não só nos dias de hoje, mas também pelas muitas gerações futuras que merecem conhecer e usufruir dessa maravilha natural que é a Cadeia Vitória-Trindade", conclui Hudson Pinheiro.
Veja mais sobre a expedição Cadeia Vitória-Trindade: https://www.youtube.com/watch?v=0FopIi2ZLOM e https://www.youtube.com/watch?v=ZsV3AkDvvvE
Coordenação de Comunicação Social do CNPq
Fonte: http://www.cnpq.br/web/guest/noticiasviews/-/journal_content/56_INSTANCE_a6MO/10157/5826160
Postado por David Araripe
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