Pular para o conteúdo principal

O Sino da Terra: Atmosfera terrestre toca música

O Sino da Terra: Atmosfera terrestre toca música
A Terra toca uma música complexa e suave - infelizmente em um tom baixo demais para os ouvidos humanos.
[Imagem: Sakazaki/Hamilton - 10.1175/JAS-D-20-0053.1]


Música da Terra

Um sino vibra em um tom mais grave e fundamental e, simultaneamente, em muitos tons harmônicos mais agudos, produzindo um som musical complexo, melodioso e agradável.

O que não sabíamos é que toda a atmosfera da Terra vibra de maneira muito parecida, produzindo uma música inaudível para os humanos, mas igualmente complexa e suave.

O badalar da atmosfera não produz uma música que possamos ouvir, por ser de frequência muito baixa, mas na forma de ondas de pressão atmosférica em larga escala que abrangem o globo e viajam pelo equador, algumas se movendo de leste para oeste e outras de oeste para leste.

Cada uma dessas ondas é uma vibração ressonante da atmosfera global, análoga a um dos sons ressonantes de um sino.

A descoberta, feita por Takatoshi Sakazaki (Universidade de Quioto) e Kevin Hamilton (Universidade do Havaí), é uma impressionante confirmação de teorias desenvolvidas por físicos nos últimos dois séculos.


Ressonâncias atmosféricas

As teorias sobre as ressonâncias atmosféricas começaram com percepções de um dos maiores cientistas da história, o físico e matemático francês Pierre-Simon Laplace, no início do século XIX.

Nos dois séculos seguintes, os físicos refinaram a teoria, o que levou a previsões detalhadas das frequências de ondas que deveriam estar presentes na atmosfera. No entanto, ninguém havia ainda conseguido detectar essas ondas no mundo real.

Sakazaki e Hamilton conseguiram depois de fazer uma análise detalhada da pressão atmosférica observada no mundo todo, a cada hora, durante 38 anos. Os resultados revelaram claramente a presença de dezenas dos modos de onda previstos.

Os dois pesquisadores concentraram-se particularmente em ondas com períodos entre 2 horas e 33 horas, que viajam horizontalmente pela atmosfera, movendo-se ao redor do mundo em grandes velocidades - acima de 1.100 quilômetros por hora. Esses movimentos definem um padrão característico, parecido com um tabuleiro de damas, de zonas de alta e baixa pressão, que estão intimamente associadas com essas ondas à medida que elas se propagam.

"Para esses modos de onda de movimento rápido, as frequências e padrões globais que observamos correspondem muito bem aos previstos teoricamente," afirmou Sakazaki. "É emocionante ver a visão de Laplace e de outros físicos pioneiros tão completamente validada depois de dois séculos".

O Sino da Terra: Atmosfera terrestre toca música
Agora que aprenderam a ler as partituras da música atmosférica, os físicos querem entender sua conexão com o clima.
[Imagem: Sakazaki/Hamilton - 10.1175/JAS-D-20-0053.1]


Decifrando as melodias da Terra

Estes primeiros resultados não significam que o trabalho deles esteja concluído.

"Nossa identificação de tantos modos em dados reais mostra que a atmosfera está realmente tocando como um sino," comentou Hamilton. "Isso finalmente resolve uma questão antiga e clássica da ciência atmosférica, mas também abre uma nova avenida de pesquisa, para entendermos os processos que energizam as ondas e os processos que atuam para amortecê-las".

Assim, enquanto a música da Terra continua a tocar, os físicos vão continuar tentando decifrar suas melodias. E não deve demorar muito para que um deles, mais interessado em arte, possa "traduzir" os sons da Terra em sons que possamos escutar.

Bibliografia:

Artigo: An Array of Ringing Global Free Modes Discovered in Tropical Surface Pressure Data
Autores: Takatoshi Sakazaki, Kevin Hamilton
Revista: Journal of Atmospheric Sciences
Vol.: 77 (7): 2519-2539
DOI: 10.1175/JAS-D-20-0053.1


Postado por Cláudio H. Dahne

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Ferramenta na internet corrige distorções do mapa-múndi

Tamanho do Brasil em relação aos países europeus (Google/Reprodução) Com ajuda da tecnologia digital, é possível comparar no mapa o real tamanho de nações e continentes Os países do mundo não são do tamanho que você imagina. Isso porque é quase inviável imprimir nos mapas, planos, em 2D, as reais proporções das nações e dos continentes. Mas agora, com a ajuda da tecnologia moderna, as distorções do mapa-múndi podem ser solucionadas. É exatamente o que faz o site The True Size Of (em inglês, ‘o verdadeiro tamanho de’). Ao entrar na plataforma é possível verificar o real tamanho de um país, comparando-o com qualquer outro do planeta. Por exemplo, o Brasil sozinho é maior que mais de vinte países da Europa juntos (confira na imagem acima). Por que é distorcido? O primeiro mapa-múndi retratado como conhecemos é do alemão Martin Waldseemüller, feito em 1507, 15 anos depois dos europeus chegarem à América com Cristóvão Colombo em 1492. Na projeção, observa-se uma África muito maior...