Pular para o conteúdo principal

Cinco razões por que as máquinas moleculares ganharam o Nobel

Trio de cientistas ganhou o Nobel de Química nesta terça-feira pela criação das “menores máquinas do mundo”. Saiba por que são importantes


Um trio de cientistas responsável pela criação de máquinas moleculares, as“menores máquinas do mundo”, ganhou o prêmio Nobel de Química nesta terça-feira. O francês Jean-Pierre Sauvage, o britânico J. Fraser Stoddart e o holandês Bernard Feringa desenvolveram motores, eixos, correntes, elevadores e até um “veículo” em escala molecular, que podem ter diversas aplicações futuras em nanotecnologia e biociência – essas máquinas poderiam, por exemplo, fazer parte da próxima geração de computadores ou levar medicamentos às células para combater o câncer.

Os três pesquisadores, que vão dividir o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (933.000 dólares ou mais de 3,5 milhões de reais) concedido pela Academia Real de Ciências da Suécia, contribuíram de maneiras diferentes para a criação das máquinas. Em 1983, Sauvage deu o primeiro passo nas pesquisas, ao conseguir transformar a ligação química entre duas moléculas em uma ligação “mecânica”. Esse substituição foi fundamental pois, para que uma máquina seja capaz de executar tarefas, suas diferentes partes precisam se mover em relação às outras – algo que as fortes ligações covalentes, que ocorrem naturalmente entre as moléculas, não são capazes de fazer.

Essa foi a base sobre a qual Stoddart e Feringa trabalharam, criando as primeiras estruturas sintéticas capazes de transformar energia em diversos tipos de movimentos controláveis.

Mas por que esses estudos são considerados um importante avanço científico? Veja abaixo cinco razões por que as “menores máquinas do mundo” podem revolucionar a ciência e medicina:

1. Elas foram algumas das primeiras “máquinas inteligentes”

As células dos seres vivos funcionam como motores, recebendo energia e executando funções como transmitir informações, regular temperatura, reparar danos ou fazer órgãos funcionarem. A ideia do trio de cientistas que ganhou o Nobel foi replicar esse trabalho em estruturas sintéticas – as máquinas criadas por eles conseguem, a partir da adição de energia, realizar tarefas, como movimentos controláveis. Assim, esses minúsculos dispositivos podem ser usados para a criação de materiais capazes de se “auto reparar” ou de executar funções sozinhos, por meio de estímulos externos.

2. São 1.000 vezes menores que a espessura de um fio de cabelo

As máquinas moleculares não podem ser vistas a olho nu. Minúsculos, esses motores, roldanas e correntes são um incrível avanço para a área da nanotecnologia, principalmente na área de biociência e informática. No futuro, invenções feitas a partir dessas máquinas poderão, por exemplo, levar medicamentos a pontos específicos do organismo.

3. Funcionam como peças que poderão fazer parte de sofisticados nanorobôs

“Em termos de desenvolvimento, o motor molecular está no mesmo estágio em que o motor elétrico estava em 1830, quando os cientistas exibiam diversas rodas e manivelas sem saber que elas levariam a trens elétricos, máquinas de lavar, ventiladores e processadores de alimentos. Máquinas moleculares serão provavelmente utilizadas no desenvolvimento de novos materiais, sensores e sistemas de armazenamento de energia”, afirma o comunicado da Academia Real de Ciências da Suécia.

4. Seu impacto pode ser comparado à invenção do microchip

Segundo comunicado da Academia Real de Ciências da Suécia, “os laureados deste ano miniaturizaram máquinas e conduziram a química a uma nova dimensão”. A criação de uma estrutura em dimensões reduzidas, o microchip, revolucionou a comunicação em todo o globo. Segundo o comitê do Nobel, as pequenas máquinas criadas por Sauvage, Stoddart e Feringa, apesar de ainda estarem em estágio inicial, poderão também promover imensas transformações na tecnologia.

5. Elas poderão revolucionar a medicina e informática

Em entrevista após o anúncio do prêmio, Feringa sugeriu ao comitê do Nobel que as máquinas moleculares podem ser usadas como nano robôs que entregarão medicamentos para células com câncer ou na criação de novos materiais inteligentes que consigam se adaptar ou mudar de acordo com o ambiente.

Fonte: http://veja.abril.com.br/ciencia/cinco-razoes-por-que-as-maquinas-moleculares-ganharam-o-nobel/
Postado por David Araripe

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Ferramenta na internet corrige distorções do mapa-múndi

Tamanho do Brasil em relação aos países europeus (Google/Reprodução) Com ajuda da tecnologia digital, é possível comparar no mapa o real tamanho de nações e continentes Os países do mundo não são do tamanho que você imagina. Isso porque é quase inviável imprimir nos mapas, planos, em 2D, as reais proporções das nações e dos continentes. Mas agora, com a ajuda da tecnologia moderna, as distorções do mapa-múndi podem ser solucionadas. É exatamente o que faz o site The True Size Of (em inglês, ‘o verdadeiro tamanho de’). Ao entrar na plataforma é possível verificar o real tamanho de um país, comparando-o com qualquer outro do planeta. Por exemplo, o Brasil sozinho é maior que mais de vinte países da Europa juntos (confira na imagem acima). Por que é distorcido? O primeiro mapa-múndi retratado como conhecemos é do alemão Martin Waldseemüller, feito em 1507, 15 anos depois dos europeus chegarem à América com Cristóvão Colombo em 1492. Na projeção, observa-se uma África muito maior...