Pesquisa conduzida pelo IBOPE CONECTA revela que o brasileiro não
relaciona a produção de alimentos com a aplicação de conhecimento
científico. Segundo dados do levantamento, apesar de 79% dos
entrevistados declararem ter interesse por ciência, apenas 23% dos
respondentes acredita que o conhecimento científico auxilia na produção
de alimentos.
O dado surpreende uma vez que a agricultura é um dos setores no qual o
Brasil mais se destaca. A pesquisa, ao mostrar que o brasileiro se
interessa por ciência, mas não a relaciona com a produção de alimentos,
mostra que é necessário aproximar esse tema do cotidiano das pessoas
para que elas reconheçam que nem só de eletrônicos e medicamentos vive a
pesquisa e que, principalmente no caso do Brasil, a inovação está no
essencial, na alimentação.
Outros dados da pesquisa revelam que o entendimento das tecnologias é
diretamente proporcional ao interesse do respondente pelo conhecimento
científico. É o caso, por exemplo, dos organismos geneticamente
modificados (OGM) ou transgênicos. O IBOPE CONECTA apurou que 80% das
pessoas responderam corretamente ao serem questionadas sobre o que é um
transgênico e esse número cresce entre os interessados por ciência.
Ao analisarmos especificamente a percepção pública da transgenia,
nota-se uma oportunidade. A grande maioria de respondentes (73%) afirma
já ter consumido transgênicos e, entre os 27% que não sabem ou afirmam
que não ingeriram, 59% se mostram abertos a experimentar. Também neste
caso, quanto maior o conhecimento sobre ciência, maior a receptividade
aos OGM. Em linha com os estudos científicos, testes e análises de
biossegurança, que garantem que os transgênicos são seguros para
alimentação humana, animal e para o meio ambiente, apenas uma minoria
acredita que eles fazem mal (33%) ou causam reações alérgicas (29%).
Apesar disso, nenhum dos entrevistados enumerou com exatidão as
culturas geneticamente modificadas (GM) plantadas no Brasil. O País
cultiva hoje sementes transgênicas de soja, milho e algodão. Na
pesquisa, os dois primeiros são citados por, respectivamente, 60% e 51%.
A resposta correta é mencionada por apenas 11% dos participantes, mas
eles também acrescentam outros produtos na lista, como trigo (30%) e
tomate (23%), que não possuem versões GM no mercado. Nesse cenário,
apenas 15% sabe que essa tecnologia está disponível para o algodão,
apesar de fazemos uso dela há mais de 10 anos.
O levantamento também investigou que características os brasileiros
avaliam que são inseridas nesses alimentos por meio da transgenia. Até
hoje, no Brasil e no mundo, prevalecem os OGM resistentes a insetos e/ou
tolerantes a herbicidas, inovações que conferem facilidades para o
agricultor. A resistência a pragas foi adequadamente mencionada por 77%
da amostra, mas 61% também atribuiu a essas plantas uma maior
durabilidade que elas não têm.
Um último dado da pesquisa IBOPE CONECTA confirma o distanciamento
entre o cotidiano das pessoas e o conhecimento sobre as tecnologias
empregadas na produção de alimentos. Ao serem questionados sobre que
tipo de substância eles acreditam que consomem ao ingerir alimentos,
apenas 17% demonstrou saber que também ingere DNA ao se alimentar de
carnes, frutas, verduras e legumes. Mais do que isso, 73% dos
entrevistados demonstram preocupação em ingerir essa molécula.
A pesquisa sugere, portanto, que há um hiato no conhecimento básico.
Possivelmente, para aumentar o entendimento sobre a transgenia e seus
benefícios, será necessário investir em educação básica, para aprofundar
a noção de que a ciência é a base de toda inovação e está presente em
todos os aspectos da nossa vida. A constatação de que as pessoas não
sabem que há DNA no que ingerem mostra a falta de conexão entre as
informações técnicas e a realidade.
A pesquisa foi realizada pela plataforma CONECTAi do IBOPE
Inteligência e teve como amostragem 2011 homens e mulheres a partir de
18 anos, das classes A, B e C, de todas as regiões do País, que não
trabalham com biotecnologia ou em áreas correlatas.
*Adriana Brondani é diretora-executiva do Conselho de Informações
sobre Biotecnologia. Bióloga, é graduada na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), onde também fez mestrado e doutorado. Tem um
histórico de atividades acadêmicas como professora de graduação e
mestrado em bioquímica e biologia molecular na Universidade Luterana do
Brasil (RS) e de pós-graduação na UFRGS e na PUCRS. Trabalhou no
Hospital de Clínicas de Porto Alegre e na Fundação SOAD (Fundação de
Pesquisas contra o Câncer), com linhas de investigação em câncer.
Fonte: http://cib.org.br/em-dia-com-a-ciencia/brasileiro-nao-reconhece-ciencia-na-agricultura/
Postado por Hadson Bastos
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