O psicólogo norte-americano e editor da Skeptic Magazine, Michael Shermer |
Promovido pela revista Scientific American Brasil, o I Seminário Internacional Scientific American Brasil – Ciência e Sociedade reuniu, na última terça-feira (3), cerca de 170 pessoas, entre pesquisadores, jornalistas e público em geral, no auditório da Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo. Com foco na importância de uma reação por parte da comunidade científica contra o recrudescimento de movimentos anticiência em todo o mundo, a conferência foi organizada em quatro mesas: Quem tem Medo do Pensamento Científico? A Ciência que não se Afirma, Ciência e Mídia, e Exemplos Inspiradores. O psicólogo norte-americano e editor da Skeptic Magazine, Michael Shermer, abriu o evento falando sobre ceticismo e método no pensamento, nas pesquisas e na divulgação científica.
A mesa 2 foi composta pela diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani; pela presidente de honra da SBPC, Helena Nader; pelo biólogo e colunista Fernando Reinach e pelo glaciologista Jefferson Cardia Simões, pesquisador líder do Programa Antártico Brasileiro. Adriana abordou a percepção da ciência, com foco no case da biotecnologia, e enfatizou a importância que o CIB tem, desde 2001, na desconstrução de mitos. “Nós já ocupamos muitos espaços, mas como comunidade científica ainda podemos intensificar nosso diálogo com a sociedade”, afirmou.
Adriana mencionou, ainda, conquistas que a biotecnologia proporcionou em áreas como saúde (vacinas, medicamentos, diagnósticos e terapias gênicas), agricultura (plantas com benefícios agronômicos e nutricionais), meio ambiente (organismos usados para manutenção da biodiversidade e remoção de poluentes) e indústria (organismos usados para melhorar a eficiência de processos). Também apresentou os primeiros produtos da biotecnologia moderna no mundo, desde a insulina, em 1982, até a soja e o milho transgênicos, em 1996.
Além disso, a diretora-executiva do CIB mostrou exemplos ilustrando como a mídia abordou o tema no início dos anos 2000 e pesquisas de opinião, feitas em diferentes anos, nos Estados Unidos e no Brasil, quanto à percepção sobre os transgênicos. “A comunicação está altamente distribuída, influenciando a tomada de decisão do consumidor. Precisamos usar mais tecnologias interativas e estar presentes para que a ciência possa falar a cada vez mais pessoas”, disse. Adriana completou que o volume do tráfego de dados móveis deve dobrar nos próximos cinco anos e que a tendência, até 2020, é de haver 5,5 bilhões de smartphones em todo o mundo.
Ainda na mesa 2, Helena Nader destacou o papel da SBPC na divulgação da ciência, incluindo materiais sobre o Código Florestal e os ribeirinhos da usina de Belo Monte (PA), e destacou a relevância da educação para o desenvolvimento do País em ciência. “O Brasil é o país que mais acredita nos benefícios da ciência”, disse. Ela também apontou que existe um gap grande entre a percepção de cientistas e da sociedade sobre temas como testes com animais e organismos geneticamente modificados (OGM). “Enquanto apenas 11% dos cientistas acham que os OGM não são seguros, 57% da população adulta americana acredita nisso”, comparou Helena. Já Fernando Reinach afirmou que seu foco, nas colunas semanais que publica há 17 anos, é explicar como e por que os cientistas chegam a determinadas conclusões, e não apenas apresentar os resultados finais dos estudos. Segundo ele, o investimento em ciência no Brasil é “miserável” e os atuais cortes federais podem “matá-la”.
Na mesa 1, além de Shermer, destaque também para a fala do professor do Instituto de Física da USP Paulo Artaxo, que assinalou a importância do papel da comunicação para que as pessoas tenham maior proximidade e familiaridade com a ciência e a comunidade científica – e vice-versa. Artaxo abordou, ainda, que um movimento anticientífico muito forte está em andamento no Brasil. “Não é uma questão financeira nem fiscal, mas a mudança de um modelo, de que não precisa de conhecimento científico se você aposta todas as fichas na economia”, disse.
A segunda metade do seminário da Scientific American foi dedicada à relação entre ciência e mídia, com participação do editor-chefe do Fantástico em São Paulo, Álvaro Pereira Jr., segundo o qual existem hoje mais fontes primárias e informações de qualidade do que no passado, e há espaço para a ciência no jornalismo diário, não apenas na editoria de ciência. Também foram citados exemplos inspiradores da atualidade, como o youtuber Pirula, que falou sobre “desonestidade intelectual” e debates polarizados na internet. “As brigas atualmente não são sobre ciência, mas sobre política. Sou mais um confirmador do que formador de opinião. No mundo virtual, quem fala mais alto acaba tendo mais credibilidade”, analisou ele, que produz vídeos para a web desde 2011.
Postado por Hadson Bastos
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