Pular para o conteúdo principal

Quebrando a Lei de Coulomb: Opostos se repelem e iguais se atraem

Lei de Coulomb quebrada em nanoescala
Quebrando a Lei de Coulomb: Opostos podem se repelir
A Lei de Coulomb é desobedecida no interior de materiais como os
utilizados nos eletrodos das baterias de íons de lítio e outras.
[Imagem: Ryusuke Futamura et al. - 10.1038/nmat4974]
No que representa um grande passo para a criação de uma nova geração mais eficiente de baterias, além de novas técnicas para o tratamento de água, uma das regras mais fundamentais da natureza acaba de ser posta em xeque - ao menos em escala atômica.
Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu uma maneira de evitar o princípio bem conhecido de que partículas com a mesma carga se repelem e partículas com cargas opostas se atraem - a chamada Lei de Coulomb (Charles Augustin de Coulomb - 1783).
Os átomos ou moléculas carregadas (íons) normalmente assumem o que se conhece como ordenamento coulômbico, colocando-se em uma sequência sucessiva de cargas positivas e negativas ao longo de uma linha reta.
No entanto, Ryusuke Futamura e seus colegas descobriram como essa ordenação coulômbica normal começa a bagunçar quando os íons são confinados em poros minúsculos, com menos de um nanômetro de diâmetro, no interior de nanoestruturas de carbono, com as usadas nos eletrodos das baterias.
Isso é crucial para o desenvolvimento de dispositivos de armazenamento de energia elétrica, como baterias e supercapacitores, e pode ser fundamental para o tratamento de água e em tecnologias alternativas de produção de energia - todas essas aplicações envolvem íons densamente agrupados no interior de materiais nanoporosos.
"Usando modelos moleculares em 3D, conseguimos determinar, a partir dos dados experimentais de espalhamento de raios X, como os íons carregados positivamente e negativamente se empacotam uns em relação aos outros dentro dos nanoporos. Sem essa habilidade de modelagem molecular 3D, não teríamos sido capazes de descobrir o empacotamento não-coulômbico," disse o professor Mark Biggs, da Universidade Loughborough, membro da equipe.
Cargas opostas se repelem, cargas iguais se atraem
A descoberta foi possível graças ao trabalho com dois nanomateriais de carbono, um com poros com diâmetro pouco acima de um nanômetro de diâmetro e outro com poros inferiores a um nanômetro.
Esses materiais adsorvem um líquido iônico - um sal líquido à temperatura ambiente, frequentemente utilizado como solvente na indústria química - da mesma forma que uma esponja absorve água.
Normalmente, os íons em líquidos iônicos se organizam em plena conformidade com o padrão alternado positivo-negativo do ordenamento coulômbico, o que de fato se observou para os íons adsorvidos no nanocarbono com poros maiores.
No entanto, para o outro carbono, onde os poros são tão pequenos que apenas uma camada de íons pode se formar entre as paredes dos poros, observou-se em larga proporção pares de íons negativos e pares de íons positivos.
"Neste estado, a ordem coulômbica do líquido está quebrada," escreveram os autores em seu artigo.
"Nossos resultados sugerem a existência de um mecanismo em escala molecular que reduz a energia de repulsão coulômbica entre co-íons que se aproximam um do outro," escreveu a equipe. Este mecanismo, teorizam eles, estaria ligado à carga temporariamente induzida nas paredes dos poros de carbono: "Íons da mesma carga avizinham-se um ao outro devido a uma blindagem de suas interações eletrostáticas pelas imagens das cargas induzidas nas paredes dos poros de carbono."
O ordenamento não-coulômbico fica ainda mais pronunciado quando uma carga elétrica é aplicada ao material de carbono, algo que acontece no carregamento e descarregamento de dispositivos de armazenamento de energia elétrica, incluindo as baterias e os supercapacitores.


Postado por Hadson Bastos



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Two new proteins connected to plant development discovered by scientists

The discovery in the model plant Arabidopsis of two new proteins, RICE1 and RICE2, could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, and ultimately to improve agricultural productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. Credit: Graphic courtesy of Dr. Xiuren Zhang, Texas A&M AgriLife Research The discovery of two new proteins could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, thus improving agriculture productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. The two proteins, named RICE1 and RICE2, are described in the May issue of the journal eLife, based on the work of Dr. Xiuren Zhang, AgriLife Research biochemist in College Station. Zhang explained that DNA contains all the information needed to build a body, and molecules of RNA take that how-to information to the sites in the cell where they can be used...

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...