Pular para o conteúdo principal

7 vezes em que os biólogos fizeram História

Em homenagem ao Dia do Biólogo, relembramos grandes feitos da área que mudaram a história da humanidade

No Brasil, a regulamentação da profissão de Biólogo foi efetivada por meio da Lei nº 6.684, de 1979
No Brasil, a regulamentação da profissão de Biólogo foi efetivada por meio da Lei nº 6.684, de 1979
Da produção eficiente de alimentos à cura das mais desafiadoras doenças, a Biologia tem papel fundamental na construção da sociedade moderna, fazendo parte do nosso cotidiano e da nossa história. O Dia Nacional do Biólogo, 3 de setembro, homenageia os 37 anos da regulamentação da profissão no Brasil. Nesta data, listamos grandes contribuições feitas por biólogos no curso da história, que, até hoje, guiam pesquisas e a nossa forma de encarar o mundo.

1) Da Ciência para a História

Enquanto Alexandre, o Grande, expandia o que se tornou um dos maiores impérios do mundo, do Ocidente ao Oriente, seu professor, Aristóteles (384 a 322 a.C.), fazia também grandes contribuições para a Ciência e a História. Além de filósofo, Aristóteles foi autor de reconhecidas obras naturalistas, que documentaram cerca de 500 amostras de plantas e animais quatro séculos antes de Cristo.

O filósofo acreditava que conhecer a natureza era uma tarefa de grande importância para a humanidade. “As ideias, modelos e experiências desenvolvidas por Aristóteles ajudaram a moldar a história natural e a desenvolver a classificação do mundo natural”, explica o professor doutor José Luiz Goldfarb, especialista em História da Ciência.

) A incrível viagem do Beagle
 
Enquanto os grandes impérios europeus buscavam territórios estratégicos no Novo Mundo no século 19, o navio HMS Beagle zarpou em 1831 sem saber que sua jornada de cinco anos mudaria a história da humanidade. Nele, estava o jovem naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809 a 1882), então com 32 anos, que escreveu posteriormente a sua mais famosa obra, A Origem das Espécies, publicada em 1859, e escandalizou a sociedade ao declarar que todas as espécies evoluíram com base na seleção natural. Até o Homem.

Contemporâneo e colega de Darwin, Alfred Wallace (1823 a 1913) também desenvolveu teorias que apoiavam a teoria da evolução. Goldfarb comenta: “Ambos foram cientistas fundamentais, mas suas descobertas resultaram de processos da história e da cultura. Uma série de fatores corroborou para o desenvolvimento da teoria, inclusive as viagens europeias de reconhecimento do Novo Mundo. Se não fosse Darwin a lançá-la, seria outro”, acredita.

Não apenas a Biologia se apropriou das descobertas da seleção natural, mas o pensamento moderno como um todo, em diversas áreas do conhecimento. “As ideias de Darwin tiveram grande reflexo nas teorias econômicas e no pensamento liberal na época da Revolução Industrial”, conta o professor doutor Murilo Damato, especialista em Engenharia Hidráulica e Sanitária. “Ainda hoje, o mercado de trabalho estimula a competição e a lei do mais adaptado que sobrevive. A flexibilidade no ambiente de trabalho determina o profissional mais qualificado”, completa.

3) O monge e as ervilhas

Longe dos famosos jardins do Palácio de Versalhes, o pacato jardim do atual mosteiro de Brno, na República Checa, foi palco da descoberta da hereditariedade, teoria que hoje é pilar para projetos como a decodificação do genoma humano e a constante seleção artificial de alimentos.
Foi neste jardim que Gregor Johann Mendel (1822 a 1884) estudou a reprodução de ervilhas. Neste simples legume, Mendel viu uma espécie que se reproduzia rapidamente e com características marcantes, favorecendo a identificação dos genes. Apesar de sua obra ter sido publicada em 1865, foi apenas no século 20 que suas descobertas ganharam o devido destaque.

A teoria de Mendel junto com a seleção natural de Darwin consolidaram a base do nosso atual entendimento do que é a evolução da vida, escreve Charles van Doren em seu livro Uma Breve História do Conhecimento. Mestre em astrofísica e ex-editor da Encyclopædia Britannica, van Doren ainda afirma que Mendel foi o primeiro a perceber que a hereditariedade é muito mais complicada do que uma simples mescla de características do pai e da mãe de determinado indivíduo – ela também é o meio pelo qual a vida evolui.

4) Lutando contra o invisível

O leite pasteurizado, facilmente encontrado nos mercados e vendinhas mais próximos de você, leva no nome uma homenagem ao cientista francês Louis Pasteur (1822 a 1895), que dedicou boa parte de sua vida à química e à microbiologia. Em 1864, munido de seu microscópio composto, Pasteur desenvolveu um processo de aquecimento e resfriamento que matava as bactérias que azedavam vinhos e cervejas. A pasteurização de alimentos utilizada hoje pela indústria alimentícia é derivada da descoberta de Pasteur. 

Este simples procedimento, nas suas diversas variações, revolucionou a luta dos seres humanos contra os micróbios, formas de vida que são invisíveis a olho nu, desde a conservação de alimentos até a vacina, desenvolvida também pelo próprio Pasteur.

5) A primavera silenciosa
 
Quando a bióloga marinha Rachel Carson (1907 a 1964) publicou o célebre livro Primavera Silenciosa, em 1962, certamente não imaginou que influenciaria o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, e posteriormente o vice-presidente do país, Al Gore. Na época, não havia sequer uma agência de proteção ambiental nos EUA e a indústria química podia lançar até mesmo pesticidas não testados no meio ambiente. Isso mudou com a contribuição de Carson.
Com o livro da bióloga, o movimento ambiental global ganhou fôlego. “A questão ambiental antes de Rachel Carson era muito atrelada ao movimento da contracultura. Depois do livro, passou a ser estudada como ciência”, sinaliza Goldfarb.

Para Damato, é importante ressaltar outros biólogos relevantes à defesa do meio ambiente, como o norte-americano Eugene Odum (1913 a 2002), com importante trabalho sobre ecossistemas; o espanhol Ramón Margalef i López (1919 a 2004), que deu contribuições à ecologia aquática e à dinâmica de rios; e o brasileiro Samuel Murgel Branco (1930 a 2003), pioneiro da área de hidrobiologia aplicada.

6) DNA e sua dupla hélice, o código da vida 

O DNA, hoje um termo popular em diversos contextos como investigação policial científica e em filmes de ficção científica, é uma descoberta relativamente recente. A estrutura de dupla hélice foi descoberta em 1953 pelo naturalista norte-americano James Watson (1928-) e pelo físico inglês Francis Crick (1916 a 2004).

Basicamente, o modelo explica como as características hereditárias são codificadas e passadas adiante. Hoje, o estudo do DNA e a sua dupla hélice é uma das mais poderosas ferramentas que a humanidade possui para entender o próprio ser humano e suas interações com a vida no mundo. Dele, surgiu uma ciência nova, a genética, que, segundo van Dorer, “é uma das vitórias do conhecimento do nosso século”.

Complementar ao estudo da molécula do DNA, a geneticista norte-americana Nettie Maria Stevens (1861 a 1912) proveu importante contribuição em trabalho coletivo de determinação de sexo por cromossomos em insetos, significativo para o desenvolvimento da teoria cromossômica, segundo a professora doutora Ana Paula Moraes Brito, historiadora da ciência.

7) Muitos biólogos e uma grande causa

Um esforço conjunto de toda a humanidade por uma causa: esta é a ideia por trás do Projeto Genoma, lançado em 1990 para desvendar o código genético dos organismos. A iniciativa concluiu o mapeamento dos genes humanos, carro-chefe do estudo, em 2003, e seus resultados já beneficiam diversas áreas do conhecimento. Um exemplo na área da saúde é a prevenção e tratamento de doenças genéticas, como a hemofilia.

O Brasil conta com vasto time de biólogos envolvidos neste projeto. Entre eles, destacamos uma pesquisadora de alto nível na área, a premiada Mayana Zatz (1947-), bióloga molecular e geneticista. “Vale ressaltar ainda a contribuição de Chana Malogolowkin (1924-) para o estabelecimento da genética no Brasil, visto que ela fundou a Sociedade Brasileira de Genética e é uma das mais importantes biólogas brasileiras”, finaliza a professora Moraes Brito.


Postado por Hadson Bastos

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Two new proteins connected to plant development discovered by scientists

The discovery in the model plant Arabidopsis of two new proteins, RICE1 and RICE2, could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, and ultimately to improve agricultural productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. Credit: Graphic courtesy of Dr. Xiuren Zhang, Texas A&M AgriLife Research The discovery of two new proteins could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, thus improving agriculture productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. The two proteins, named RICE1 and RICE2, are described in the May issue of the journal eLife, based on the work of Dr. Xiuren Zhang, AgriLife Research biochemist in College Station. Zhang explained that DNA contains all the information needed to build a body, and molecules of RNA take that how-to information to the sites in the cell where they can be used...

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...