Uma pesquisa que pode ajudar no combate ao vírus da Aids, conduzida pela
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em parceria com a
Universidade de Londres, o Instituto Nacional de Saúde (INH) dos Estados
Unidos e o Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da África do
Sul, recebeu no dia 15 de novembro um prêmio internacional, concedido
pelo Consórcio Federal de Laboratórios do Médio-Atlântico (FLC MAR).
O
trabalho, já publicado em artigo na revista Science em 2015, comprovou
que sementes de soja geneticamente modificadas (GM) são uma biofábrica
viável para produção, em larga escala, de uma proteína extraída de algas
marinhas chamada cianovirina, que é eficiente contra o HIV.
Elibio Rech |
Por definição, uma biofábrica ou fábrica biológica é quando um organismo
– nesse caso, a soja GM – se torna uma usina para fabricação de
compostos (como proteínas e enzimas) utilizados em remédios e na
indústria têxtil e de detergentes, por exemplo. “Na década de 1990,
surgiu a ideia de usar a engenharia genética em um conceito humanitário,
com foco na África. Os países que receberem, no futuro, o gel vaginal à
base de cianovirina não precisarão pagar royalties por essa
tecnologia”, destaca o engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e
conselheiro do CIB, Elibio Rech.
Segundo ele, as sementes de soja acumulam normalmente 40% de
proteína, por isso são indicadas para produção de cianovirina, a um
baixo custo, com facilidade de transporte e estoque. “Há mais de uma
década, iniciamos no Brasil e nos EUA a purificação dessa proteína, para
obtermos uma matéria-prima 100% pura. Tecnicamente, o mais difícil em
todo esse processo já foi feito. Os próximos passos, agora, são produzir
as sementes e gerar proteína em larga escala e, então, realizar os
estudos pré-clínicos e clínicos”, afirma Rech, que também é doutor em
Ciências da Vida pela Universidade de Nottingham, na Inglaterra, membro
da Academia Brasileira de Ciências e coordenador do Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia – Biologia Sintética (INCT ByoSin). O
pesquisador explica ainda que, como a finalidade dessa soja é
medicamentosa, a ideia é que ela não seja cultivada no campo, mas em
estufas e casas de vegetação, sob condições controladas.
Rech diz que recebeu a notícia do prêmio com muita alegria e
satisfação. “É um projeto emblemático para a engenharia genética,
direcionado a segmentos da sociedade que têm menos acesso a
medicamentos. E são produtos de alta tecnologia, com grande valor
agregado”, avalia. O pesquisador da Embrapa espera que a técnica seja
repetida com várias outras moléculas, para emprego em vacinas contra a
dengue e malária e em tratamentos contra o câncer de mama, por exemplo.
Só na África, 20% das mortes são em decorrência da Aids. Segundo dados
da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 20% da população adulta
na Zâmbia e na África do Sul vive com a doença. No Brasil, de acordo com
estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de novos
infectados pelo HIV subiu 3% entre 2010 e 2016, na contramão do restante
do mundo, onde a contaminação pelo vírus registrou queda de 11% no
mesmo período.
Postado por Hadson Bastos
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