Técnica de edição de DNA está sendo testada em paciente com síndrome rara na Califórnia. Resultados devem sair em três meses.
Pela primeira vez, cientistas tentam editar um gene dentro do corpo de
uma pessoa para curar uma doença, informa a Associated Press. Segundo a
agência, o experimento foi feito na segunda-feira (13), nos Estados
Unidos, mas divulgado nesta quarta-feira (15). Em setembro, os chineses anunciaram terem sido os primeiros a utilizar a edição de DNA para curar uma doença, mas o experimento foi feito em um embrião.
Brian Madeux, de 44 anos, sofre de síndrome de Hunter, uma doença
metabólica rara, e recebeu bilhões de cópias de um gene capaz de
corrigir a doença. A correção do gene foi feita utilizando-se uma
técnica semelhante à Crispr, ferramenta recente que permite a edição
precisa do genoma e tem causado uma verdadeira revolução na ciência. A
ferramenta usada é conhecida como Zinger Finger Nuclease; aqui, a edição
do material genético é direcionada para as proteínas de zinco que
mediam o reparo do DNA.
O feito no corpo de alguém neste momento é particularmente importante
porque o uso de técnicas de edição só foram divulgadas com sucesso total
recentemente em estudos -- em julho, cientistas mudaram pela primeira vez o DNA de um embrião. Mais para frente, em outubro, o mesmo grupo anunciou a edição do RNA.
Ambos os feitos foram publicados na "Nature" por grupo do Instituto de
Tecnologia de Massachussets (MIT, na sigla em inglês), que utilizaram a
técnica Crispr.
A diferença agora é que a edição foi utilizada dentro do corpo de
alguém. Especialistas estão chamando o feito de "cirurgia química".
"Nós cortamos o DNA, abrimos, e inserimos o gene", disse à AP Sandy
Macrae, presidente da Sangamo Therapeutics, empresa da Califórnia que
está testando a técnica em doenças metabólicas. "Isso irá ser parte do
DNA e estará lá para o resto da vida".
Doença e aprovação
A síndrome de Hunter é caracterizada pela ausência de um gene que
produz enzima responsável pela metabolização do carboidrato. A síndrome
pode prejudicar todo o desenvolvimento (com perda auditiva, problemas
cardíacos, problemas respiratórios) e tem alterações na morfologia da
face uma de suas principais características.
"Muitos estão em cadeira de rodas e ficam dependentes dos pais até
morrer", diz à AP Chester Whitley, especialista em genética da
Universidade de Minnesota e um dos autores do estudo.
"Estou disposto a assumir esse risco. Espero que isso ajude a mim e a outras pessoas", disse Madeux à Associated Press.
Madeux já chegou a fazer 26 cirurgias para a condição. "Acredito que eu
tenha feito uma cirurgia a cada dois anos da minha vida", disse à
agência. No ano passado, diz a AP, Madeux quase morreu de um ataque de
bronquite e pneumonia. "Eu quase me afoguei nas minhas secreções. Não
conseguia tossir", disse.
Os sinais que irão indicar se a terapia está funcionando devem aparecer
em um mês. Testes mostrarão com certeza em três meses, informa a AP. Se
for bem sucedido, o experimento dará grande impulso para a terapia
genética em todo o mundo.
O estudo foi aprovado pelo NIH (National Institute of Health), órgão
que autoriza estudos clínicos nos Estados Unidos. "Os testes em animais
foram animadores", diz à AP Howard Kaufman, cientista de Boston que
participou do comitê que aprovou o estudo.
À agência, ele destacou que a promessa de edição de genes é muito boa
para ser ignorada. "Até agora, não há provas de que isso seja perigoso",
disse. "Não é hora para medo".
Postado por Hadson Bastos
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