Pular para o conteúdo principal

Microscópio crioeletrônico detalha vírus em nível atômico

O microscópio revelou a estrutura atômica completa do vírus, incluindo átomos de oxigênio (vermelho), nitrogênio (azul), carbono (amarelo) e enxofre (verde).[Imagem: Yong Zi Tan et al. - 10.1038/s41467-018-06076-6]

Vírus com detalhes atômicos
Pesquisadores aprimoraram a técnica de criomicroscopia eletrônica a ponto de detalhar um vírus em nível atômico.
Yong Zi Tan e seus colegas do Instituto Salk e da Universidade da Flórida, nos EUA, acreditam que isso permitirá viabilizar o uso seguro de vírus como agentes terapêuticos, no transporte de medicamentos para dentro do corpo humano e em terapias gênicas, por exemplo.
"Nós aplicamos uma série de procedimentos diferentes que anteriormente só foram descritos em teoria. Demonstramos experimentalmente, pela primeira vez, que eles podem ser usados para melhorar drasticamente a qualidade desse tipo de imagem," disse o professor Dmitry Lyumkis, coordenador da equipe.
Esses vários avanços técnicos foram usados para criar uma representação tridimensional de uma variante de um vírus conhecido como AAV2 (sigla em inglês para vírus adeno-associado serotipo 2), com resolução muito melhor do que era possível até agora - a ponto de mostrar os átomos individuais na estrutura do vírus.
Esse detalhamento em nível atômico permitiu obter estruturas para complexos de proteínas inteiras, em vez de apenas porções de proteínas.
Com detalhes em nível atômico é possível reconstruir a estrutura completa das proteínas. [Imagem: Yong Zi Tan et al. - 10.1038/s41467-018-06076-6]

Vírus terapêutico
A equipe estreou sua tecnologia em uma versão do AAV2 que possui uma alteração específica em um de seus aminoácidos. Esta versão é interessante porque é menos infecciosa do que alguns outros AAVs, e está sendo estudada por suas implicações no ciclo de vida viral. A nova pesquisa forneceu uma explicação estrutural de por que ela é diferente de outros vírus, revelando as principais mudanças no portal viral usado para empacotar o DNA.
"Em última análise, esse tipo de pesquisa tem implicações importantes para entender as interações entre esses diferentes vírus e os tipos de células que eles infectam," disse o pesquisador Sriram Aiyer. "Isso é importante para desenvolver uma maior compreensão do sistema imunológico humano e como ele reconhece os vírus".
A expectativa é que o detalhamento do vírus ajude no desenvolvimento de terapias genéticas, incluindo tratamentos para alguns tipos hereditários de cegueira, hemofilia e doenças do sistema nervoso.

Bibliografia: Sub-2 A Ewald curvature corrected structure of an AAV2 capsid variant
Yong Zi Tan, Sriram Aiyer, Mario Mietzsch, Joshua A. Hull, Robert McKenna, Joshua Grieger, R. Jude Samulski, Timothy S. Baker, Mavis Agbandje-McKenna, Dmitry Lyumkis
Nature Communications
DOI: 10.1038/s41467-018-06076-6


Postado por Cláudio H. Dahne (Ciências Biológicas - UFC)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Ferramenta na internet corrige distorções do mapa-múndi

Tamanho do Brasil em relação aos países europeus (Google/Reprodução) Com ajuda da tecnologia digital, é possível comparar no mapa o real tamanho de nações e continentes Os países do mundo não são do tamanho que você imagina. Isso porque é quase inviável imprimir nos mapas, planos, em 2D, as reais proporções das nações e dos continentes. Mas agora, com a ajuda da tecnologia moderna, as distorções do mapa-múndi podem ser solucionadas. É exatamente o que faz o site The True Size Of (em inglês, ‘o verdadeiro tamanho de’). Ao entrar na plataforma é possível verificar o real tamanho de um país, comparando-o com qualquer outro do planeta. Por exemplo, o Brasil sozinho é maior que mais de vinte países da Europa juntos (confira na imagem acima). Por que é distorcido? O primeiro mapa-múndi retratado como conhecemos é do alemão Martin Waldseemüller, feito em 1507, 15 anos depois dos europeus chegarem à América com Cristóvão Colombo em 1492. Na projeção, observa-se uma África muito maior...