Pular para o conteúdo principal

Planta brasileira pode desarmar bactéria resistente a antibiótico

Segundo estudo, a aroeira-vermelha contém componentes capazes de desativar gene da superbactéria MRSA e evitar os danos que ela causa no organismo

Durante séculos a aroeira-vermelha é utilizada por comunidades da Amazônia para tratar infecções na pele e outros tecidos. Porém, só agora cientistas conseguiram compreender essa prática de cura ancestral. Em um estudo publicado na última sexta-feira no periódico Scientific Reports, um grupo de pesquisadores testou uma substância derivada da planta brasileira em camundongos e descobriu que alguns dos seus componentes são capazes de desativar genes responsáveis pela virulência da MRSA (sigla em inglês para Staphylococcus aureus resistente a meticilina), bactéria que é a principal causadora de infecções hospitalares.
“Nós separamos ingredientes químicos dos frutos e os testamos sistematicamente em bactérias causadoras de doenças para descobrir o mecanismo medicinal dessa planta”, afirma em comunicado Cassandra Quave, autora da pesquisa e professora da Escola de 
Medicina da Universidade Emory, nos Estados Unidos. Apesar de ainda não ter sido testada em humanos, a descoberta pode ajudar a desenvolver novas maneiras de tratar infecções causadas por “superbactérias” – nome popular que faz referência a bactérias resistentes a vários antibióticos.

Bactérias (quase) invencíveis
Há anos os cientistas vêm tentando encontrar uma solução para o crescente problema das infecções por superbactérias. Estudos apontam que, até 2050, esses microrganismos super resistentes podem chegar a matar 10 milhões de pessoas por ano se nada for feito – um valor superior às 8,2 milhões de mortes anuais causadas atualmente pelo câncer. 

Cientistas já conseguiram desenvolver algumas alternativas de medicamentos, incluindo um novo tipo de antibiótico que ainda não existia no mercado e um remédio à base de vírus que ataca o interior das células bacterianas. A principal dificuldade, no entanto, é que se algumas dessas bactérias sobreviverem aos novos medicamentos, podem passar seus genes adiante e tornar as novas gerações resistentes a eles também.
O extrato da aroeira-vermelha estudado por Cassandra e sua equipe, porém, atua de uma maneira diferente. Chamado de 430D-F5, ele é composto por uma mistura de 27 substâncias químicas. Nenhuma delas é capaz de matar a bactéria – porém, conseguem desarmá-la, silenciando o gene que é responsável pela comunicação entre os microrganismos. Com a comunicação bloqueada, eles não conseguem tomar ações coletivas e deixam de excretar substâncias tóxicas que danificam os tecidos.
Para chegar a esses resultados, os cientistas utilizaram o extrato para tratar um grupo de camundongos que foram infectados com a MRSA, e mantiveram um grupo controle sem o remédio. Eles observaram que os camundongos que receberam o tratamento não desenvolveram problemas de pele, enquanto os outros sim. Além disso, equipe também percebeu que o extrato não causa nenhum dano à pele das cobaias, e nem às bactérias naturais e saudáveis que vivem no tecido.
“Em alguns casos, é necessário atacar fortemente com antibióticos para tratar o paciente”, Cassandra afirma. “Porém, ao invés de sempre utilizar uma bomba para acabar com uma infecção, existem situações em que usar um método antivirulento pode ser tão efetivo quanto, ajudando também a restaurar o equilíbrio da saúde do paciente.”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Two new proteins connected to plant development discovered by scientists

The discovery in the model plant Arabidopsis of two new proteins, RICE1 and RICE2, could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, and ultimately to improve agricultural productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. Credit: Graphic courtesy of Dr. Xiuren Zhang, Texas A&M AgriLife Research The discovery of two new proteins could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, thus improving agriculture productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. The two proteins, named RICE1 and RICE2, are described in the May issue of the journal eLife, based on the work of Dr. Xiuren Zhang, AgriLife Research biochemist in College Station. Zhang explained that DNA contains all the information needed to build a body, and molecules of RNA take that how-to information to the sites in the cell where they can be used...

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...