Estudos como esse mostram que o envelhecimento não é um fenômeno necessariamente irreversível, mas um fenômeno biológico controlável
As células-tronco, além de poderem se diferenciar em qualquer tipo de células, exibem outra propriedade marcante: a capacidade de permanecerem jovens. Para compreender como isso ocorre é necessário entender que a estrutura dos cromossomos, que contêm os genes, sofre alterações com o decorrer do tempo, ou seja, assim como acontece com a nossa pele ou cabelos, os cromossomos também envelhecem.
Este envelhecimento é devido, em boa parte, a modificações do material cromossômico que é remodelado, das proteínas nas quais o DNA se encontra enrolado (essas proteínas são as histonas) e dos próprios genes que recebem radical metila que modificam seu potencial de expressão.
Estas modificações não acontecem na estrutura dos genes propriamente ditos, isto é, não são mutações. Conforme a alteração que ocorra numa determinada região do cromossomo, o DNA estará enrolado de forma mais justa ou mais frouxa, dificultando ou facilitando a atividade dos genes. Portanto, essas modificações que vão se acumulando ao longo da vida, tecnicamente denominadas como marcas ou modificações epigenéticas, têm a capacidade de modificar a eficiência do trabalho dos nossos genes.
Há mais de duas décadas se sabe que as marcas epigenéticas têm um papel relevante no envelhecimento. O que foi descoberto mais recentemente, é que a reativação de quatro genes que estão ativos apenas em células embrionárias é capaz de erradicar as marcas epigenéticas de células envelhecidas transformando-as em células jovens.
Em 2011, Laure Lapasset do Instituto de Genomica funcional de Montpellier reproduziu este experimento utilizando células humanas provenientes de indivíduos centenários, demonstrando que a ativação destes genes também rejuvenescia células humanas de qualquer idade. Até aqui, são experimentos feitos em células no laboratório.
Para verificar se a ativação controlada destes genes teria um efeito rejuvenescedor em um ser vivo inteiro, Izpisua Belmonte e colaboradores do Instituto Salk da Califórnia utilizaram camundongos portadores de Progeria.
A Progeria é uma doença rara, que também existe em seres humanos, caracterizado por um envelhecimento precoce e acelerado. Humanos quando acometidos por Progeria falecem de doença cardiovascular antes dos 20 anos de idade. O que os pesquisadores verificaram é que a ativação destes genes teve o efeito de retardar o envelhecimento destes animais aumentando seu tempo de vida em 33%.
Como, à medida que envelhecemos, nossa capacidade de reparar os tecidos declinam, os pesquisadores testaram a técnica em animais saudáveis de meia idade nos quais as células beta, responsáveis pela produção de insulina, haviam sido removidas e também em animais com lesão muscular provocada por veneno de cobra. Novamente, os pesquisadores demonstraram que a ativação desse conjunto de genes embrionários provocou uma melhor recuperação dos distúrbios metabólicos e uma recuperação mais rápida do tecido muscular.
Deste modo, essa pesquisa publicada na prestigiosa revista Cell no dia 15 de dezembro de 2016, estabelece uma prova de conceito pela qual, a ativação controlada de genes embrionários, levando à erradicação parcial das marcas epigenéticas pode provocar o rejuvenescimento de pelo menos, alguns órgão e tecidos.
É importante, contudo, lembrar que a erradicação das marcas epigenéticas pode reverter as células às suas características embrionárias e modificar sua capacidade reprodutiva, aumentando a possibilidade de ocorrência de tumores, notadamente os teratomas.
Apesar de estarem longe de poderem ser aplicadas como tratamento em seres humanos, estas pesquisas provam de maneira contundente que o envelhecimento não é um fenômeno necessariamente irreversível, mas sim um fenômeno biológico controlável. Pesquisas sobre os mecanismos de regulação do envelhecimento é que nos trarão as informações para que no futuro possamos realizar o sonho de prolongar a vida com qualidade.
Postado por David Araripe
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