A depressão é considerada o mal do século XXI. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2010, a doença era responsável por aproximadamente 10% do total de anos saudáveis desperdiçados pela humanidade. Atualmente, 400 milhões de pessoas convivem com o distúrbio no planeta. Além de liderar a lista das doenças mais incapacitantes, a depressão gera gastos na casa dos 800 bilhões de dólares por ano. Esse valor é equivalente ao Produto Interno Bruto da Turquia.
O diagnóstico, entretanto, é difícil, especialmente nos casos mais leves. Os médicos ainda não conseguem ser categóricos em determinar as razões pelas quais uma crise se desencadeia. Porém, uma coisa é certa, há um fator genético. Exatamente para determinar o quanto os genes podem influenciar esse quadro (isto é, identificar se existem genes da depressão), 200 cientistas de 161 instituições do mundo todo, se reuniram para realizar uma ampla análise. A pesquisa teve a coordenação da Kings College London (Reino Unido), da Universidade da Carolina do Norte (EUA) e da Universidade de Queensland (Austrália).
Nesse caso, foram investigados mais 135 mil casos da doença e outros 340 mil controles (pessoas que não apresentavam o distúrbio, mas que foram estudadas para comparação). O estudo foi publicado na revista científica Nature Genetics e integra o “Psychiatric Genomics Consortium”, um esforço global para mapear genes associados a condições disfunções psiquiátricas.
Genes da depressão?
O principal resultado do trabalho foi a identificação de 44 genes relacionados a formas severas da condição. Isso é particularmente importante porque a ciência já sabe que, em casos mais graves, a hereditariedade tem um peso importante na ocorrência da doença e era preciso conhecer os fatores que levam a isso. Um outro ponto relevante é que apenas metade dos pacientes responde bem aos tratamentos existentes e novas terapias podem surgir a partir desse mapeamento genético.
Dos 44 genes mapeados, 30 foram descritos pela 1ª vez nessa iniciativa. Segundo os autores, o achado abre caminho para o surgimento de terapias mais específicas para a doença. Com o mapeamento genético, cientistas podem desenvolver medicamentos que tenham por alvo o bloqueio de substâncias produzidas a partir de informações desses genes.
O que dizem outras pesquisas?
Outros estudos já haviam mostrado forte correlação entre os casos mais graves da doença e a influência genética (hereditariedade). Apesar disso, pesquisadores pontuam que não é uma relação de causa e efeito. Isso quer dizer que nem toda a pessoa com um dos 44 “genes da depressão” vai desenvolver a condição. Nos casos mais graves, o fator genético tem um peso de 40% a 50%.
Depressão no Brasil
De acordo com um levantamento realizado pela Universidade Harvard, dos Estados Unidos, a prevalência de depressão no Brasil é a maior entre as nações em desenvolvimento, com um total de 10,4% de indivíduos atingidos. Além disso, a taxa de mortes relacionada a episódios depressivos (incluindo suicídios) aumentou 705% por aqui nos primeiros anos deste século, segundo pesquisa realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O mal do século e o aumento dos casos
A depressão está associada a muito preconceito e desinformação. Não é incomum encontrar pessoas que a consideram uma fraqueza de caráter. Os médicos, entretanto, explicam o aumento de casos: hoje o diagnóstico é muito mais preciso. Em outras palavras, a doença sempre esteve entre nós, mas só agora somos capazes de identificá-la.
Postado por Cláudio H. Dahne (Ciências Biológicas - UFC)
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