Pular para o conteúdo principal

A extravagante beleza das árvores “bombadas”

Barriguda, paineira, baobá, palo borracho e sumaúma: o que há em comum e por que devemos reverenciar esses curiosos monumentos do mundo vegetal


Por toda a infância deste jardineiro diletante, ela foi uma referência inevitável: sempre que eu passava pela trilha em meio à plantação de eucaliptos que cobria parte do velho sítio da família, lá estava seu tronco encravado no chão como uma enorme e espinhenta pata de dinossauro. Mesmo na comparação com o alto bosque de eucaliptos em torno, a velha paineira dominava o pedaço. Quando os eucaliptos foram arrancados, ela finalmente pôde ser apreciada em sua magnificência completa: coberta de flores lilases que se formam bem no meio do verão, é um espetáculo feito para se observar de longe, como um testemunho da grandiosidade vegetal.
SUMAÚMA (Ceiba pentandra): a gigante da Amazônia atinge até 70 metros. Não raro, necessita-se de mais de uma dezena de pessoas para abraçar o conjunto do tronco e das raízes
A paineira é a representante mais familiar de uma categoria de gigantes da natureza: as árvores que produzem um efeito bombástico na paisagem em razão de seu tronco exageradamente intumescido, muitas vezes até desproporcional em relação à copa da planta. Nisso, a nossa paineira rosa ou lilás é até discreta perto de parentes como os baobás africanos, a barriguda (ou imbaré) da caatinga nordestina, a sumaúma da floresta amazônica ou o palo borracho, dos vizinhos Paraguai e Argentina (confira um pouco mais sobre elas nas imagens deste post). Tecnicamente, todas pertencem à subfamília botânica “Bombacoideae”. Na prática, prefiro chamá-las simplesmente pelo que parecem: árvores “bombadas”. 
BARRIGUDA ou IMBARÉ (Cavanillesia arborea): nativa da caatinga, do norte de Minas ao sertão nordestino, é considerado o baobá brasileiro. Vai bem até no Sudeste

Para que serve um tronco tão absurdo? Quem apostou no óbvio acertou: trata-se de um modo da planta guardar água e nutrientes. Seja aquele que há em excesso, como nos ambientes alagados onde cresce a sumaúma, seja aquele que é escasso e precioso, caso do solo árido em que a barriguda nordestina vegeta.

PALO BORRACHO (Ceiba insignis): com tronco bojudo e porte atarracado, é espécie típica da região do Chaco paraguaio e argentino
E qual a razão de um post sobre árvores imensas e de crescimento tão lento que pouca gente poderá ter em seu próprio jardim – que dirá ver formadas em plenitude durante a vida? Bem, elas não são apenas organismos fantásticos diante dos quais ninguém passa indiferente. São monumentos à eternidade – e, como tal, existem para ser reverenciados.
PAINEIRA (Ceiba speciosa): Muito comum nas matas e campos abertos do Sudeste brasileiro, combina tronco exótico e floração intensa
Postado por David Araripe

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Ferramenta na internet corrige distorções do mapa-múndi

Tamanho do Brasil em relação aos países europeus (Google/Reprodução) Com ajuda da tecnologia digital, é possível comparar no mapa o real tamanho de nações e continentes Os países do mundo não são do tamanho que você imagina. Isso porque é quase inviável imprimir nos mapas, planos, em 2D, as reais proporções das nações e dos continentes. Mas agora, com a ajuda da tecnologia moderna, as distorções do mapa-múndi podem ser solucionadas. É exatamente o que faz o site The True Size Of (em inglês, ‘o verdadeiro tamanho de’). Ao entrar na plataforma é possível verificar o real tamanho de um país, comparando-o com qualquer outro do planeta. Por exemplo, o Brasil sozinho é maior que mais de vinte países da Europa juntos (confira na imagem acima). Por que é distorcido? O primeiro mapa-múndi retratado como conhecemos é do alemão Martin Waldseemüller, feito em 1507, 15 anos depois dos europeus chegarem à América com Cristóvão Colombo em 1492. Na projeção, observa-se uma África muito maior...