Pular para o conteúdo principal

Em meio a seca histórica, agroecologia gera renda para sertanejos do NE

Em meio ao sertão da Paraíba, que enfrenta uma seca histórica de cinco anos, Marlene Pereira, 46, sustenta sua família com o que planta em seu terreno de menos de meio hectare, menor que um campo de futebol, em Lagoa Seca, a 142 quilômetros de João Pessoa.
A venda de cebolinha, coentro, batata doce, alface, couve, milho, além das criações de galinha e bode, na feira agroecológica da cidade, uma das 12 na região do Polo da Borborema, garante a renda.
"Nossos produtos são livres de agrotóxicos", conta a agricultora. "A gente mesmo produz o biofertilizante. É totalmente agroecológico."
A variedade nem sempre esteve nos terrenos de Marlene. "Nossos pais e avós diziam que tinha que plantar uma coisa, não dava um monte de coisa no mesmo local", diz. "Hoje, eu boto tudo no chão e dá. Tendo água, dá tudo."
A água vem das cisternas que chegaram ao município em 2010. A tecnologia social é certificada pela FBB (Fundação Banco do Brasil), que já construiu 92 mil equipamentos do tipo em todo o semiárido nordestino e pretende alcançar ainda mais municípios.
Elas servem tanto para consumo das famílias, com captação da chuva no telhado para reservatórios de 16 mil litros, quanto para criação de animais e produção, em calçadões inclinados de 200 metros quadrados e com tanques de 52 mil litros.
"Antes, era uma vida só da cacimba [poço]. Acabou a água, acabou tudo", lembra Marlene. "Hoje, não. A gente, mesmo nesse período de seca, continua mantendo nossas feiras agroecológicas."
Delfino Oliveira, 23, também é um dos agricultores da região. Na zona rural do município de Esperança, ele mantém a variada plantação no terreno onde mora com os pais e os irmãos.
Além das cisternas para captação de água, a área conta com um biodigestor, que gera gás de cozinha a partir do esterco dos animais. O uso do equipamento reduziu o consumo de botijões de gás para um ao ano.
O jovem agricultor vende seus produtos em uma das 12 feiras da região. O restante, utiliza para consumo próprio. "Aqui não tem desperdício. Se não vender na feira, comemos em casa. E se não der para a gente comer, vai para os animais", diz.
TRANSFORMAÇÃO
Apesar de a rede de agroecologia da região existir desde 1994, a feira em Lagoa Seca surgiu apenas em 2002, e as melhorias vieram em 2014, quando foi lançado o projeto Ecoforte - Redes de Agroecologia na Borborema.
Com recursos da FBB e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), ele incentiva o protagonismo das mulheres, o acesso a feiras e promove fundos solidários e bancos de sementes crioulas.
Há dois anos, os mercados contam com estrutura como barracas e equipamentos de transporte. "A gente não toma chuva, sol. As pessoas que vêm comprar também tem um local mais adequado", relata Marlene.
As iniciativas facilitam a vida no semiárido e ajudam a permanência dos sertanejos na agricultura. Com incentivo do sindicato da região, Delfino deixou a vida urbana quando viu a qualidade de vida no campo.
"Na cidade, teria um chefe que gritaria se chegasse atrasado ou não fizesse alguma tarefa", compara.
Outra mudança para a família do jovem veio do Pais (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável), que prevê a produção de alimentos orgânicos para consumo familiar e incentiva a comercialização do excedente, além de capacitação técnica para as melhores práticas.
"Quando chove e você planta, é bom. Quando começa a ter lucro, é melhor ainda", afirma sobre o programa.
Marlene também viu sua vida ter outro rumo. "Começamos numa moto, hoje temos um carro melhor, uma casa melhor, uma boa qualidade de vida. Estudei, cursei agricultura, sou técnica em agroecologia, em informática, em contabilidade e em agropecuária."
A agricultora já disse que não sai da sua terra. "Meu maior sonho é ter saúde e um local maiorzinho para plantar. Meu terreno é muito pequeno para o que eu quero fazer."
Fonte: http://m.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2017/01/1843675-em-meio-a-seca-historica-agroecologia-gera-renda-para-sertanejos-do-ne.shtml?cmpid=compfb
Postado por David Araripe

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E A EQUAÇÃO DE ARRHENIUS por Carlos Bravo Diaz, Universidade de Vigo, Espanha

Traduzido por Natanael F. França Rocha, Florianópolis, Brasil  A conservação de alimentos sempre foi uma das principais preocupações do ser humano. Conhecemos, já há bastante tempo, formas de armazenar cereais e também a utilização de azeite para evitar o contato do alimento com o oxigênio do ar e minimizar sua oxidação. Neste blog, podemos encontrar diversos ensaios sobre os métodos tradicionais de conservação de alimentos. Com o passar do tempo, os alimentos sofrem alterações que resultam em variações em diferentes parâmetros que vão definir sua "qualidade". Por exemplo, podem sofrer reações químicas (oxidação lipídica, Maillard, etc.) e bioquímicas (escurecimento enzimático, lipólise, etc.), microbianas (que podem ser úteis, por exemplo a fermentação, ou indesejáveis caso haja crescimento de agentes patogênicos) e por alterações físicas (coalescência, agregação, etc.). Vamos observar agora a tabela abaixo sobre a conservação de alimentos. Por que usamo...

Two new proteins connected to plant development discovered by scientists

The discovery in the model plant Arabidopsis of two new proteins, RICE1 and RICE2, could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, and ultimately to improve agricultural productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. Credit: Graphic courtesy of Dr. Xiuren Zhang, Texas A&M AgriLife Research The discovery of two new proteins could lead to better ways to regulate plant structure and the ability to resist crop stresses such as drought, thus improving agriculture productivity, according to researchers at Texas A&M AgriLife Research. The two proteins, named RICE1 and RICE2, are described in the May issue of the journal eLife, based on the work of Dr. Xiuren Zhang, AgriLife Research biochemist in College Station. Zhang explained that DNA contains all the information needed to build a body, and molecules of RNA take that how-to information to the sites in the cell where they can be used...

Fármaco brasileiro aprovado nos Estados Unidos

  Em fotomicrografia, um macho de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose CDC/G. Healy A agência que regula a produção de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, concedeu o status de orphan drug para o fármaco imunomodulador P-Mapa, desenvolvido pela rede de pesquisa Farmabrasilis, para uso no tratamento de esquistossomose.  A concessão desse status é uma forma de o governo norte-americano incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças com mercado restrito, com uma prevalência de até 200 mil pessoas nos Estados Unidos, embora em outros países possa ser maior. Globalmente, a esquistossomose é uma das principais doenças negligenciadas, que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo e cerca de 7 milhões no Brasil.  Entre outros benefícios, o status de orphan drug confere facilidades para a realização de ensaios clínicos, após os quais, se bem-sucedidos, o fármaco poderá ser registrado e distribuído nos Estados Unidos, no Brasil e em outro...